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“Nossos adolescentes precisam de ferramentas para lidar com o mundo”, diz pesquisadora

Posted on junho 2, 2017 by gustavo
02
jun

No blog Professores, da SOMOS Educação, um dos maiores grupos de educação do mundo, Letícia Guimarães Lyle, pesquisadora da área da educação, fala sobre a importância de trabalhar competências socioemocionais em adolescentes. Confira, na íntegra:

O livro “Os 13 porquês”, que deu origem à série homônima da Netflix, traz à tona diversas discussões a respeito das razões que levam Hannah, a protagonista, a cometer suicídio. Este artigo foca em uma delas: o bullying na adolescência. Sem entrar no mérito do programa, vale aproveitarmos a chance para pensar não só no que podemos fazer a fim de evitar que situações repetitivas e comuns na vida dos adolescentes não produzam efeitos indesejáveis no longo prazo como, principalmente, sobre como podemos instrumentalizá-los para lidar com esses desafios.

Esses mesmos desafios que adolescentes enfrentam atualmente já fizeram parte da minha própria adolescência: os conflitos provenientes da transformação para a vida adulta, a exacerbação da individualidade, o desenvolvimento da autoestima. Eu fui uma menina alta, desengonçada, com aparelho nos dentes, que usava cabelo no rosto e calça caída para disfarçar o tamanho das pernas. Quanto mais eu conseguisse esconder o que me desagradava e era alvo de críticas, melhor. Se já me sentia estranha no meu pequeno mundo, imagine se esse meu estranhamento fosse registrado e publicado em uma rede social, ou comentado em um Snapchat entre amigos, ou, ainda, jogado no grupo de mensagens da sala de aula, para todo mundo ver, comentar e dar risada? Imaginem não poder rasgar um bilhete mal escrito ou uma foto de que não gostamos? Ou não conseguir voltar atrás em algo que dissemos, não conseguir reparar a exposição dos altos e baixos de nossos relacionamentos, não controlar o que acontece com a nossa própria imagem.

Mais do que nunca, nossos adolescentes precisam de ferramentas para lidar com o mundo, especificamente na fase em que vivem. Há seis anos eu estudo o desenvolvimento de competências socioemocionais e trabalho com isso. Já criei programas em escolas públicas e privadas, projetos de formação de professores, adaptei currículos e materiais didáticos, e cada uma dessas experiências evidenciou a importância dessas competências e do quanto são essenciais para o processo de ensino e aprendizagem – e para o desenvolvimento humano de pais, responsáveis, professores e alunos.

Quando falamos sobre competências socioemocionais, delimitamos um conjunto de ações, habilidades, comportamentos e valores que norteiam a maneira pela qual o indivíduo se relaciona consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo a sua volta. Uma série de estudos e experiências no Brasil e em outros países demonstram os benefícios do trabalho com essas competências, e revelam apoiar tanto o desenvolvimento de competências cognitivas como a forma com a qual o aluno se relaciona com a informação e com o conhecimento.  Modelos educacionais de todo o mundo, dentre eles os da Finlândia, Austrália e Cingapura, estão voltando seus esforços para garantir nas escolas esse trabalho com aprendizagem socioemocional.

Não há um consenso sobre quais exatamente são essas competências; porém, dois dos referenciais mais conhecidos e utilizados — o Big Five Factors (Cinco Grandes Fatores da Personalidade) e o CASEL (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning) — apresentam maneiras muito similares de entendê-las. Enquanto o Big Five descreve cinco grandes domínios — Abertura a novas experiências, Conscenciosidade, Extroversão, Amabilidade e Neuroticismo —, o CASEL busca garantir que certas competências sejam trabalhadas na vida de todas as crianças por meio de cinco componentes da aprendizagem socioemocional: autoconhecimento, autorregulação, sociabilidade, competências de relacionamento e, por último, tomada de decisões responsáveis.

Na definição de Maurice Elias, a aprendizagem socioemocional é o processo pelo qual um indivíduo adquire as competências centrais para estabelecer e atingir objetivos positivos; apreciar a perspectiva dos outros; estabelecer e manter relações positivas; reconhecer e manejar suas emoções; tomar decisões responsáveis; e lidar com situações interpessoais de maneira construtiva” (Elias et al., 1997). No Brasil, o Instituto Ayrton Senna lidera um grupo de estudos chamado Edulab21, com pesquisadores brasileiros da USP, USF, Insper, Universidade de Gent, na Bélgica, e Universidade de Berkley, na Califórnia, que busca desenvolver instrumentos para a avaliação dessas competências em escolas. Na sua primeira versão, o instrumento criado por eles, Senna 1.0, conseguiu apontar correlações entre vulnerabilidade e violência e competências socioemocionais.

Programas como Compasso Socioemocional, Amigos do Zippy, O Líder em Mim, Friends, Projeto Cuca Legal, entre outros, desenvolvem essas competências de maneiras explícitas em ambientes escolares de escolas públicas e particulares de todo o Brasil. A importância de trabalhar as competências socioemocionais com os alunos ficou evidente também no Academic Festival do Teachers College, a Faculdade de Educação da Universidade de Columbia, nos EUA, do qual recentemente participei. Uma das atrações principais do evento foi a Cynthia Bissett-Germanotta, mãe de nada mais nada menos do que Lady Gaga. Junto da filha, Cynthiaé cofundadora da Born This Way Foundation (BRWF), uma organização que investe em pesquisas e programas tanto de prevenção do bullying quanto da valorização da diversidade de crianças e adolescentes pelo mundo.

Falando sobre seu projeto, e contando a história de suas filhas, que durante a adolescência, por serem diferentes, sofreram bullying, Cynthia apontou as competências socioemocionais das filhas como o grande fator que as ajudou a sair de situações difíceis: A BTWF apoia e desenvolve projetos com a Universidade de Yale e com outras instituições de pesquisa que buscam comprovar a necessidade de trabalhar letramento emocional e inteligência emocional nas crianças desde pequenas. Outras organizações, como o Committee for Children, evidenciam uma visão pragmática sobre como trabalhar com o tema para entender e prevenir o bullying nas escolas. Para tanto, é necessário: reconhecer o bullying (ações deliberadas de agressões físicas e/ou verbais que acontecem repetidamente e configuram uma situação de poder entre quem sofre e quem faz a agressão); recusar o bullying (não deixar que a agressão se efetive, não rir, não encorajar comportamentos agressivos e assumir uma postura proativa para que isso pare); e reportar a um adulto de confiança ao se perceber como alvo de bullying ou ao conhecer alguém que seja.

O trabalho com adolescentes também é foco do programa de mentalidade de crescimento (Growth Mindset), desenvolvido sob os cuidados de Carol Dweck, na Universidade de Stanford. O conceito de Mentalidade de Crescimento nasceu da pesquisa de Dweck sobre a importância de trabalhar com adolescentes a percepção que eles mesmos têm sobre a própria inteligência e ajudá-los a entender “desafio” como uma palavra positiva e “esforço” como o grande vetor da sua história escolar. No site do Project for Education Research that Scales — PERTS, programa da Universidade de Stanford para desenvolver soluções de impacto em larga escala, professores e gestores escolares podem aprender a trabalhar conceitos que promovem a aprendizagem socioemocional de adolescentes e crianças.

Mas como esse trabalho acontece na prática? Dou um exemplo. Há um mês implantei um projeto com alunos do 3.° ano do Ensino Médio de uma escola pública de São Paulo. Parte de uma iniciativa para que colaboradores da Somos Educação vivenciem o cotidiano escolar e os desafios de professores, o programa propõe aulas de cursinho todos os dias no período da tarde. Sugeri que fosse realizado um breve curso de sensibilização socioemocional que acompanhasse a grade tradicional e focasse em introduzir o trabalho com competências, para que se estabelecesse um ambiente de troca e confiança entre os alunos participantes e se iniciasse um processo de autoconhecimento.

Nosso primeiro encontro foi muito especial. Os alunos, muitos deles bastante emocionados, revelaram a dificuldade que tinham em confiar nos colegas por medo de serem expostos e por serem — e se sentirem — diferentes. Depois de um exercício de reflexão e uma troca de experiências entre eles, descobriram quantas questões influenciavam o dia a dia na escola, como a autoestima dos colegas também estava balançada e como todos achavam difícil descrever e apontar as próprias belezas e facilidades. Bullying, solidão, depressão e baixa autoestima fazem parte do dia a dia do adolescente na escola e, muitas vezes, eles não têm espaço, e principalmente ferramentas, para lidar com isso.

Um aluno me perguntou genuinamente se podíamos mesmo aprender a trabalhar com nossos sentimentos: “A gente consegue mesmo melhorar como a gente se sente?”. Sim,  conseguimos. Essa é a base de toda a aprendizagem socioemocional. A verdade é que muitos desses alunos não estão encontrando espaço nem em casa, nem na escola para desenvolver essas competências, e muitos estão desamparados nesse momento tão complexo de suas vidas. Há uma centena de razões para que a aprendizagem socioemocional faça parte da vida desses adolescentes. Meu convite é para que utilizemos a discussão sobre Os 13 Porquês para destacar os trabalhos que vêm sendo realizados no Brasil e no mundo, lançando essa reflexão para o centro da prática pedagógica nas escolas. Todos os nossos jovens merecem desenvolver a empatia, a liderança, a cidadania, o fortalecimento da autoestima, a solidariedade e tantas outras competências para serem capazes de mudar o seu próprio mundo.

Nós precisamos buscar maneiras de garantir que nossos adolescentes possam se desenvolver com segurança, e espaço para crescer. Já são muitas as soluções disponíveis e evidências sobre os efeitos positivos do trabalho com as competências socioemocionais em variados formatos. Escolha um, invente um, faça o teste – esse desafio é de todos nós.

 

Referências:

Durlak, J. A. et al. The impact of enhancing students’ social and emotional learning: a meta-analysis of school-based universal interventions. Child Development, jan.-fev. 2011, v. 82, n. 1, pp. 405-432.

Dweck, C. S. (2007). The Perils and Promises of Praise. Early Intervention at Every Ag, 65 (2), pp. 34-39.

Elias, M. J.; Zins, J. E.; Weissberg, R. P.; Frey, K. S.; Greenberg, M. T.; Haynes, N. M. et al. (1997). Promoting social and emotional learning: Guidelines for educators. Alexandria, VA: Association for Supervision and Curriculum Development.

Kokkinos, C. M; Kipritsi, E. (2012). The relationship between bullying, victimization, trait emotional intelligence, self-efficacy and empathy among preadolescents. Social Psychology of Education, 15 (1), pp. 41–58.

Primi, R.; Santos, D.; John, O. P.; De Fruyt, F. (2016). Development of an Inventory Assessing Social and Emotional Skills in Brazilian Youth. European Journal of Psychological Assessment, 32(1), pp. 5–16.

Raver, C. C. (2002). Emotions matter: Making the case for the role of young children’s emotional development for early school readiness. Social Policy Report, 16(3), pp. 3–18.

Soto, C. J.; John, O. P. (2016). The Next Big Five Inventory (BFI-2): Developing and Assessing a Hierarchical Model With 15 Facets to Enhance Bandwidth, Fidelity, and Predictive Power.  Journal of Personality and Social Psychology,  DOI: 10.1037/pspp0000096.

Welsh, M.; Parke, R. D.; Widaman, K.; O’Neil, R. (2001). Linkages between children’s social and academic competence: A longitudinal analysis. Journal of School Psychology, 39(6), pp. 463–482.

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gustavo

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